Saturday, March 21, 2009

O Reino de Servos

Em uma companhia militar, algo que se é notável de imediato é a presença de um sistema hierárquico,e suas patentes.Como em uma escada, o soldado vai galgando seus espaços. Há quem seja sargento por toda vida, e há quem se dedica em crescer e efetivamente cresce em suas patentes, até chegar ao posto máximo de Marechal, que é um título exclusivamente de honra, já que a condecoração maior em serviço é General. No Brasil houve um contato próximo com a hierarquia por conta do regime repressor que atravessou três décadas no poder. E o interessante desse sistema hierárquico é que, a importância da patente era tamanha, que nem se preocupava tanto com determinados posicionamentos morais que, em tese, seriam contraditórios ao posto de um militar, pois a patente já valeria metade do caminho.

Curioso é que no reino de Deus, a hierarquia tem sido cada vez mais patente e cada vez menos cristã e mais militar. E com isso, questionamentos aparecem. O principal e mais claro é de que se esse realmente é o reconhecimento de autoridade Cristã. E outros questionamentos serão levantados a seguir.

Curioso, antes de entrar nos cernes dessas questões, é ver determinadas instituições religiosas ditas igrejas, onde pessoas galgam espaços, começando pela diaconia, passando pelo presbiterato e, em seguida é elevado ao posto de evangelista, chegando, finalmente, ao ministério pastoral, visto na atualidade como o posto mais importante, pois, ao que se imagina (erroneamente), que seja o maior de todos, por ser o ministério que exerce governo. Veja então, o que diz Jesus em Marcos 12: 42-45:

“Mas Jesus, chamando-os (Thiago e João) para junto de si, disse-lhes: Sabeis que sois considerados governadores dos povos, tem-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem, não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida por resgate de muitos.”

Esse texto é tão claro que mostra sem muita necessidade de explicações. Quem quer crescer, que sirva. E isso é que causou tamanha estranheza nas lideranças judaicas que conheceram Jesus e até hoje não consegue ser absorvido. E temos que servir como ele serviu. Ele deixou o exemplo. O Teólogo Dietrich Bonhoeffer afirma: “Nossos atos religiosos não nos tornam cristãos; o que nos faz cristãos é participarmos dos sofrimentos de Cristo em nossa vida secular.”

O Servo é aquele que ouve a voz do seu senhor, pelo Espírito e o obedece, e segue em serviço; ao Senhor, ao reino, ao corpo, aos irmãos. Para servir é necessário que entendamos que é pelo Espírito, porque o derramamento do Espírito Santo se dá juntamente com o nascimento da Igreja.

O que muitos não entendem é que toda a autoridade espiritual cabe no serviço. Pode parecer contraditório para um governo estritamente político, mas o governo de Cristo não é assim. O Reino de Deus se estabelece em Jesus, que cumpre o pacto remidor de Deus, sem modificar o passado.

Hoje, a igreja está distante de um vislumbre original. Mas ainda há esperança. Pode-se ver na igreja hoje vários grupos. Destacam-se três: PROFETAS, LEGALISTAS E MUNDANISTAS. Os profetas são aqueles que nadam contra a maré: alertam, exortam, denunciam, tudo em prol da edificação do corpo de Cristo. Já os legalistas, que normalmente governam (pastores e membros fundadores de igrejas locais, ou bem ricos), não são dos mais apreciadores dos ministérios proféticos, por irem contra a estrutura vigente e portanto, por serem ameaçadores de seus postos, o que também pode ser caracterizado por idolatria e uma das mais perigosas, a do ego. Karl Barth afirma: “Quando o céu se esvazia de Deus, a terra se povoa de ídolos”. E, por fim, os mundanistas, que normalmente não gostam nem de um, nem de outro, pois são anestesiados pelo pecado, caminhando rumo à apostasia.

O reino de Deus é a alegria do Espírito Santo. Sem o derramar do Espírito, sem a unidade em Cristo Jesus, e o serviço, a igreja perece e o mundo não reconhece a glória de Deus, porque quando o poder da unidade da igreja desaparece, os substitutos são exatamente os legalistas e os mundanistas, que de uma forma ou de outra, matam e levam a humanidade para o inferno. E essa relação está acontecendo hoje. O enfraquecimento da esperança messiânica acontece junto e por conta da institucionalização hierárquica da Igreja. O Governo é dele. O Reino é dele. A glória é dele. Somos participantes do reino por meio de nosso serviço. A chamada PAROUSIA só é visível ao mundo pelo caminho de um coração solícito, disposto a ser pequeno, a ser formiga operária, a ser anônimo. Esse sim é de grande valia para o Rei.

Nada melhor para encerrar essa reflexão com a oração sacerdotal de Jesus, em João 17:9-26:

“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado. E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos. Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja. “